quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Infoproletários: a degradação real do trabalho virtual

O amigo Álvaro Britto me enviou por e-mail esta oportuna dica literária.


Há uma associação oculta entre o uso de novas tecnologias e a imposição de condições de trabalho do século XIX em um dos setores considerados como mais dinâmicos da economia moderna. Essa é uma das teses centrais do livro "Infoproletários - Degradação real do trabalho virtual, um lançamento da Boitempo Editorial. Obras será lançada dia 13 de novembro, às 17h30min, no prédio de Filosofia e Ciências Sociais da USP (Sala 18), com a presença de Ricardo Antunes, Ruy Braga e Francisco de Oliveira.

O livro "Infoproletários - Degradação real do trabalho virtual" evidencia a associação oculta entre o uso de novas tecnologias e a imposição de condições de trabalho do século XIX em um dos setores considerados como mais dinâmicos da economia moderna, o informacional. Ao contrário do que é prometido pelos entusiastas deste novo segmento, os trabalhadores vivenciam uma tendência crescente de alienação do trabalho em escala global. A obra reúne uma série de ensaios que esquadrinham diferentes aspectos da rotina e do modo de vida daqueles que, apesar de frequentemente arruinarem suas vozes ao transformá-las em poderosos instrumentos de acumulação de capital, raramente são ouvidos.


A classe trabalhadora é retratada neste livro em duas representações polarizadas. De um lado, aparecem os operadores de telemarketing. Globalizados em sua relação social, totalizados em sua subordinação, monitorados em cada um de seus movimentos, punidos por cada infração às regras, resumem e simbolizam os novos trabalhadores atrelados ao resplandecente, porém inatingível, mundo do consumo. Sua imaginação é totalmente circunscrita e dirigida pelo capitalismo.

Já em outro extremo estão os aristocratas do cibertrabalho, os programadores de software, gabando-se e desfrutando de sua autonomia enquanto se movem em espiral pelo espaço e pelo tempo. Eles não são menos prisioneiros da própria individualidade, intoxicados por seu ilusório empreendedorismo.

Segundo Michel Burawoy, sociólogo que assina a orelha do livro, ”a obra aponta para a profunda transformação sofrida pela classe trabalhadora e o projeto de movimento internacional operário, ante os parâmetros verificados por Karl Marx em seu tempo. Apenas a articulação entre múltiplas identidades – de gênero, de nacionalidade, de raça, assim como de classe – forjadas em terrenos políticos que transcendam a produção imediata lhes permitirá se rebelar contra o mercado e desafi ar o capital global – mas, mesmo assim, apenas em um grau limitado e de uma forma fragmentária. Essa é certamente a mensagem deste livro – que revela a experiência cotidiana vivida por essa nova classe trabalhadora globalizada ligada aos serviços”.

Ensaios e autores

O trabalho do conhecimento na sociedade da informação: a análise dos programadores de software
.
Juan José Castillo


A construção de um cibertariado? Trabalho virtual num mundo real.
Ursula Huws


A vingança de Braverman: o infotaylorismo como contratempo.
Ruy Braga


O “trabalho informacional” e a reificação da informação sob os novos paradigmas organizacionais.
Simone Wolff


Os trabalhadores das Centrais de Teleatividades no Brasil: da ilusão à exploração.
Sirlei Marcia de Oliveira


O desenho do trabalho assalariado em empresas fidelizadoras da indústria de call centers no Brasil.
Arnaldo Mazzei Nogueira e Fabrício Cesar Bastos

Centrais de Teleatividades: o surgimento dos colarinhos furta-cores?
Selma Venco


A identidade no trabalho em call centers: a identidade provisória.
Cinara Lerrer Rosenfield


As trabalhadoras do telemarketing: uma nova divisão sexual do trabalho?
Claudia Mazzei Nogueira


Trajetórias profissionais e saberes escolares: o caso do telemarketing no Brasil.
Isabel Georges

Século XXI: nova era da precarização estrutural do trabalho?
Ricardo Antunes


Apêndice
Capital fixo e o desenvolvimento das forças produtivas na sociedade.
Karl Marx

Sobre os organizadores
Ricardo Antunes é professor de sociologia do trabalho na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e organizador de Riqueza e miséria do trabalho no Brasil (São Paulo, Boitempo, 2007). É autor de Adeus ao trabalho? (São Paulo, Cortez, 2003) e Os sentidos do trabalho (São Paulo, Boitempo, 1999), entre outros livros.


Ruy Braga é professor do Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo e diretor do Centro de Estudos dos Direitos da Cidadania da USP (Cenendic). É autor de, entre outros livros, Por uma sociologia pública (com Michael Burawoy) (São Paulo, Alameda, 2009) e A nostalgia do fordismo: modernização e crise na teoria da sociedade salarial (São Paulo, Xamã, 2003).

Sobre a Coleção Mundo do Trabalho
Coordenação de Ricardo Antunes

Estudos sobre o trabalho, a sua centralidade na sociedade capitalista, a análise do sindicalismo, questões de gênero e o impacto das transformações trazidas.

Ficha técnica
Título: Infoproletários Subtítulo: degradação real do trabalho virtual
Organizadores: Ricardo Antunes e Ruy Braga
Orelha: Michel Burawoy
Páginas: 256
Ano de publicação: 2009

ISBN: 978-85-7559-136-9
Preço: R$ 44,00
Coleção Mundo do Trabalho - Boitempo Editorial

Fonte: Agência Carta Maior

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