domingo, 12 de abril de 2009

Direito é a vontade do patrão!

O Vitor Menezes, do Urgente!, acertou a mão mais uma vez em um texto bastante lúcido, publicado neste domingo, no Monitor Campista. Desta vez retorna ao assunto da última semana sobre a adoção do controle eletrônico de ponto para os jornalistas nos grandes jornais do Rio, ao comentar o artigo de Celso Cordeiro, publicado esta semana no Monitor Campista.


Faltou o contraponto

Por Vitor Menezes

FO caríssimo colega Celso Cordeiro, em artigo aqui no Monitor da última quinta-feira, manifestou sua opinião desfavorável à adoção de pontos eletrônicos para controle das horas trabalhadas por jornalistas nas grandes redações do Rio. Sua argumentação teve o mesmo espírito do manifestado por colunistas de O Globo e por Ruy Castro, na Folha de São Paulo – ele está bem acompanhado, portanto.

O argumento principal contra o ponto eletrônico é o de que jornalista não tem hora. É um profissional que vive da notícia e notícia não avisa quando vai acontecer e nem quanto tempo vai durar.

Outro aspecto lembrado é o de que a profissão de jornalista não combina com a burocracia do ponto eletrônico. Na Folha, Castro chegou a brincar com o fato de Danuza Leão ter se casado com jornalistas justamente porque estes chegam tarde em casa e sempre têm boas histórias para contar – ela foi casada com Antônio Maria, Samuel Wainer e Renato Machado. Sobre a sua crônica, publiquei nesta semana o artigo “Se eu fosse Ruy Castro”, no site Federação Nacional dos Jornalistas (www.fenaj.org.br).

Mas tanto o nosso querido Celso Cordeiro quanto os colunistas de O Globo e Ruy Castro – a seção “Por dentro do Globo” também tratou do assunto –, se esqueceram de obedecer a uma regra tão tradicional no jornalismo quando a aversão à burocracia: ouvir o outro lado.

E há uma longa história antes da chegada do ponto. Tem a ver com toda a trajetória de profissionalização da atividade de jornalista, que garantiu mais independência e qualidade às redações. Mas no caso específico do Rio, trata-se de um assunto debatido e reivindicado por jornalistas há pelo menos uma década, e aprovado em assembleia da categoria.

Não passa pela cabeça de nenhum jornalista abandonar a sua apuração em razão de ter chegado o horário de passar o cartão de ponto. No entanto, o que passa pela sua cabeça – como na de qualquer trabalhador – é a de que ele deve receber pelas horas trabalhadas. Simples assim: trabalhe por 7, 8, 10, 12 horas. E receba por 7, 8, 10, 12 horas. Que problema há nisso?

Desde a Revolução Industrial, em fins do século XVIII, o tempo é um parâmetro para a remuneração. E também devem ter sido chamados de burocráticos os primeiros trabalhadores que resolveram reivindicar a redução de jornada, a exclusão de crianças do mundo do trabalho, o estabelecimento de um salário mínimo, direitos sociais, aposentadoria, e tantos outros pressupostos legais que buscam preservar o lado mais frágil na relação empregado-empregador.

Um lado bom nessa polêmica é a de que ela expôs, ainda que parcialmente, ao menos um pequeno aspecto dos bastidores da produção jornalística e da atividade dos jornalistas, que sempre foi um assunto relevante para o público, mas, infelizmente, ignorado pela grande imprensa.


Acrescento a observação do Vitor, que consegue quase sempre ser moderado, daí a minha admiração por sua capacidade de mostrar indignação de forma comedida, a minha opinião.

O Celso Cordeiro demonstrou com seu texto a veia patronal que sempre falou alto na sua carreira como jornalista, já que ele exerceu durante muitos anos o cargo de direção em veículos de comunicação em Campos.

O que esperar de alguém que sempre que pode contribuiu para que os jornalistas em campos fossem massacrados em seus mais elementares direitos trabalhistas. Hora extra? O que é isso? Direito? Direito é a vontade do patrão! Faltou terminar seu texto com esta exclamação, caro Celso.

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